O Papilomavírus Humano ou HPV (do inglês Human Papillomavirus) é o causador de quase todos os casos de câncer de colo do útero, de aproximadamente 60% dos cânceres de orofaringe, 90% dos cânceres de ânus, 70% dos cânceres de vagina e vulva e 60% dos tumores malignos do pênis. Até o momento existem aproximadamente 200 subtipos de HPV descritos, sendo treze os mais oncogênicos, com destaque para os subtipos 16 e 18, que respondem por mais de 90% das ocorrências acima. Esse cenário impõe e facilita o desenvolvimento de estratégias preventivas específicas contras esses tumores. Em se tratando de um vírus cuja principal via de disseminação é a sexual, essas medidas vão desde orientações comportamentais até, idealmente, a imunização ativa através de vacinas.
Antes de continuarmos, é importante ressaltar que o fato de se estar infectado pelo vírus não significa que a doença se manifestará. Embora o HPV seja um patógeno frequente, com aproximadamente 80% das mulheres infectadas em algum momento de suas vidas, a grande maioria eliminará o vírus espontaneamente em até dois anos, sem maiores repercussões clínicas. Uma pequena parcela, entretanto, evoluirá com a infecção crônica e estará sim sob risco de manifestar o câncer. Os principais fatores de risco para a persistência da infecção e desenvolvimento do câncer são início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais, tabagismo e deficiência imunológica (tabela 1).
Segundo dados da OMS e do INCA, estima-se 290 milhões de mulheres infectadas pelo HPV no mundo. Aproximadamente 500 mil irão desenvolver o câncer de colo uterino, das quais mais da metade, infelizmente, não resistirá à doença. Está claro então, que embora o desenvolvimento da neoplasia maligna seja uma consequência rara da infecção pelo HPV, trata-se de um grave problema, justificando todo esforço para combatê-lo. Calcula-se que a adequada cobertura vacinal da população feminina possa reduzir em mais de 90% a incidência mundial do câncer cervical.
A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) publicou em janeiro último as novas diretrizes para prevenção primária do câncer de colo uterino (1), o mais prevalente dos tumores relacionados ao HPV. Um grupo especialistas, após análise de extensa literatura, elaborou um guia para orientação da comunidade médica mundial normatizando a vacinação contra o HPV. Estabeleceram-se as doses e o público alvo, bem como recomendações específicas para estratégias de saúde pública (tabelas 2 e 3).
O protocolo do nosso Ministério da Saúde aproxima-se bem das recomendações da ASCO. Disponibiliza na rede pública a vacina quadrivalente (contras os HPVs 6, 11, 16 e 18) e o calendário de 2017 orienta duas doses com 6 meses de intervalo em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 12 a 13 anos. Indivíduos imunodeprimidos (submetidos a transplantes de órgãos, transplantes de medula óssea, pacientes oncológicos ou portadores do HIV/Aids) deverão receber o esquema de três doses (0, 2 e 6 meses) para ambos os sexos, dos 9 aos 26 anos de idade (tabela 04).
Agora, os senhores devem estar se perguntando por que um cirurgião oncologista está escrevendo sobre vacinação, ainda que seja contra um tipo de câncer. Pois bem, é justamente por nos depararmos diariamente com a consequência mais indesejável do HPV, muitas vezes nos obrigando a mutilar e a esterilizar pessoas jovens, ainda sem prole constituída, é que nos vemos também obrigados a insistir e a alertar sobre a sua prevenção. Principalmente, quando essa prevenção está tão bem estabelecida e é de tão fácil acesso.
Em suma, fique atento ao HPV, às medidas preventivas e aos calendários de vacinação. As vacinas contra o HPV e suas indicações são objeto de pesquisa no mundo inteiro tornando todo esse processo muito dinâmico e em constante aprimoramento.
E, finalizando, uma última e IMPORTANTÍSSIMA informação: O fato de vacinar-se contra o HPV NÃO dispensa os exames preventivos de rotina, sendo o Papanicolau ainda o mais importante deles!!
Consulte o seu especialista!
Saúde e um forte abraço anticâncer!!
Até breve,
Dr. Eduardo.
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